O espírito de Karl Marx em Lausanne: Teologia da Missão Integral

Por Julio Severo:

René Padilla: Lausanne defendeu a Teologia da Missão Integral como a missão da igreja


Karl Marx estava em Lausanne em 1867, para um congresso marxista internacional.

Um século mais tarde, outro congresso internacional atraiu a atenção em Lausanne. Não foi um congresso marxista. Foi um congresso evangélico sobre evangelização. Contudo, deu um holofote fantástico para os promotores latino-americanos da TMI (Teologia da Missão Integral), que, de acordo com seus defensores brasileiros, é a versão protestante da marxista Teologia da Libertação. Um deles é Ariovaldo Ramos, que louvou Hugo Chávez. Ele é o diretor da Visão Mundial no Brasil.

Foi o Congresso Lausanne de Evangelização Mundial,1974, onde um de seus teólogos, René Padilla, era um dos mais proeminentes defensores da TMI na América Latina.

Então, espiritualmente, Karl Marx estava também presente no congresso Lausanne, através de sua ideologia, que estava ganhando roupagem evangélica.

Roupagens bonitas disfarçam uma ideologia feia e enganadora.

Por isso, há um esforço dos promotores da TMI de sequestrar o propósito de grandes conferências evangélicas explorando qualquer declaração que se assemelhe aos sentimentos socialistas da TMI. Em seu documento “Integral Mission and its Historical Development” (Missão Integral e seu Desenvolvimento Histórico), Padilla argumentou em favor da TMI fazendo uma lista de várias conferências evangélicas passadas como alegadamente apoiando-a.



Usarei o documento de Padilla como referência para tratar a TMI em Lausanne.

Acerca do Congresso de Missão Mundial da Igreja (Wheaton 1966), Padilla disse:

“A Declaração de Wheaton confessou o ‘fracasso de aplicar princípios bíblicos para tais problemas como racismo, guerra, explosão populacional, pobreza, desintegração da família, revolução social e comunismo.’”

“Explosão populacional” era um assunto comum e obsessão entre as elites ocidentais nas décadas de 1960 e1970 e deveria ter sido tratada por líderes cristãos responsáveis e capazes não de acordo com os desejos das elites, desejos que levaram à legalização do aborto nos EUA, a maior nação protestante do mundo, e posterior homossexualização radical da sociedade. “Explosão populacional” é um mito e estratégia retórica que disfarçam iniciativas de controle populacional que incluem o planejamento familiar e são responsáveis hoje pelo dilúvio de “direitos homossexuais” em detrimento dos direitos e bem-estar das crianças e suas famílias. Se esse mito tivesse sido desmascarado por líderes cristãos naquela época, poderia ter evitado a legalização do aborto nos Estados Unidos, a qual ocorreu em 1973, com um número enorme hoje de mais de 50 milhões de bebês em gestação como vítimas inocentes.

Acerca de revolução social e comunismo, qualquer que seja a interpretação que Padilla tentasse dar, é óbvio que a TMI, em sua prática latino-americana, nunca foi inimiga para ele e seus colegas teólogos liberais.

Padilla se pergunta sobre Wheaton 1966:

“Como tal documento pôde ser produzido numa conferência de missões realizada nos Estados Unidos numa época em que o evangelicalismo nesse país não estava simplesmente interessado em mudança social ou ativismo social.”

Entretanto, um evangelho socialista não era uma realidade estranha nos EUA. Ao que tudo indica, Padilla ignora o movimento do Evangelho Social, que nasceu nos EUA na década de 1870. O socialismo na sociedade americana e entre suas igrejas era uma ameaça tão séria que “Os Fundamentos,” um documento teológico organizado por R. A. Torrey e publicado em 1915, tinha um capítulo inteiro contra o marxismo e o socialismo.

O socialismo, mascarado como interesse em mudança social ou ativismo social, é um velho problema nas igrejas americanas.

O velho movimento do Evangelho Social dissipa o mito de que o evangelicalismo nos EUA não tinha se envolvido em “mudança social ou ativismo social.” E há sinais significativos de que o liberalismo teológico mais importante na América Latina foi influenciado por ele.

A Teologia da Missão Integral, ou até mesmo a Teologia da Libertação, pode ser o desdobramento mais importante do Evangelho Social.

Um missionário presbiteriano do movimento do Evangelho Social foi para o Brasil em 1952 e passou uma década ensinando teologia na instituição teológica presbiteriana mais proeminente do Brasil. Seu nome era Rev. Richard Shaull, e ele estava envolvido em várias causas marxistas e comunistas no Brasil. O nascimento das ideias da Teologia da Missão Integral (TMI) no Brasil tem origem e crédito nele.

Na década de 1950 ele já dizia o que os promotores da TMI estariam dizendo nas décadas de 1980 e 1990 e décadas futuras. O discípulo de Shaull, Rubem Alves, inicialmente um teólogo na Igreja Presbiteriana do Brasil e mais tarde um agnóstico, defendia as ideias da Teologia da Libertação antes de seu lançamento oficial.

Ainda que a TMI seja rotulada de versão protestante da Teologia da Libertação, a TMI nasceu antes da Teologia da Libertação. Para mais informações, baixe meu e-book grátis: http://bit.ly/11zFSqq

Padilla tentou dar para a TMI um nascimento mais nobre usando grandes conferências evangélicas, inclusive o Congresso Mundial de Evangelismo (Berlim 1966), como alegados precursores.

Em seu discurso de abertura na Conferência de Berlim, Billy Graham reafirmou sua convicção de que “se a igreja voltasse à sua tarefa principal de proclamar o Evangelho e as pessoas se convertessem a Cristo, teria um impacto muito maior nas necessidades sociais, morais e psicológicas dos homens do que poderia alcançar por meio de outra coisa que se pudesse realizar.”

Apesar disso, Padilla usou essa conferência como um grande precursor da TMI. Ele disse:

“Com todos esses antecedentes, ninguém deveria ficar surpreso que o Congresso Internacional de Evangelização Mundial (Lausanne 1974) acabaria se revelando um passo definitivo para confirmar a missão integral como a missão da igreja. Em vista da marca profunda que deixou na vida e missão do movimento evangélico no mundo inteiro, o Congresso de Lausanne pode ser considerado o encontro evangélico mundial mais importante do século XX.”

Para Padilla, Lausanne estabeleceu a Teologia da Missão Integral como a missão da igreja. Assim, com a TMI em Lausanne, o socialismo se tornou a missão da igreja.

Por causa da influência esquerdista de Padilla e outros teólogos latino-americanos, o Pacto de Lausanne disse: “Afirmamos que o evangelismo e o envolvimento sócio-político são ambos partes de nosso dever cristão.” O Pacto de Lausanne basicamente igualou evangelismo com ação política de linha esquerdista, uma união profana nunca feita pelo Evangelho ou Jesus.

A figura central do primeiro Congresso de Lausanne foi Billy Graham. Sem ele, não teria havido Lausanne, mas também nem ele esperava a repercussão em nível ideológico. Quando Graham percebeu que a esquerda evangélica estava tentando atrelar tudo, ele parou de financiar Lausanne, para desgosto de Robinson Cavalcanti, antigo colunista da revista Ultimato, que publicamente acusou que Lausanne estava sob uma “hegemonia da ala conservadora, branca, anti-CMI (Conselho Mundial de Igrejas), antissocialista,” etc. (Pobre Graham: branco, anglo-saxão, conservador, etc!)

Cavalcanti queria a continuidade de Graham no movimento Lausanne para captar recursos para levar adiante a revolução da TMI. Essa revolução vem ocorrendo, mas sem o dinheiro e participação de Graham. Valdir Steuernagel, líder da TMI, já mostrou que hoje Lausanne está muito mais TMI do que nunca. Não é, pois, um movimento com a cara do Evangelho, mas com a cara de uma ideologia que se mascara como Evangelho.

Padilla comentou acerca dos resultados que ele ajudou a produzir nesse pacto da TMI dizendo: “O Pacto de Lausanne não só expressou penitência pela negligência da ação social, mas também reconheceu que o envolvimento sócio-político era, junto com o evangelismo, um aspecto essencial da missão cristã. Ao fazer isso deu um golpe mortal nas tentativas de reduzir a missão à multiplicação de cristãos e igrejas por meio do evangelismo.”

No entanto, “ação social” e “envolvimento sócio-político” como “um aspecto essencial da missão cristã” nunca foram, na opinião de Padilla e outros adeptos da TMI, ativismo conservador. Sempre foram ativismo socialista.

Padilla frisa o mesmo ponto quando diz:

“Se tanto o evangelismo quanto a ação social estão tão intimamente relacionados que sua parceria é ‘em realidade, um casamento,’ é óbvio que a primazia do evangelismo não significa que o evangelismo deve sempre e em toda parte ser considerado mais importante do que seu parceiro. Se esse fosse o caso, algo estaria errado com o casamento!… Conceito de missão como um casamento em que os dois parceiros — palavra e ação — são iguais, mas separáveis.’”

Então para Padilla, a ação social — na verdade, a ação socialista — é tão importante quanto é o Evangelho. Essa é uma união profana que Jesus e seus apóstolos nunca pregaram ou conheceram.

Padilla tenta fazer os inimigos da TMI parecerem evangélicos de classes mais elevadas na América do Norte se opondo a pastores latino-americanos pobres que adotaram uma teologia para ajudar os pobres. Ele disse:

“Apesar de seus inimigos, a maioria deles identificados com a elite missionária norte-americana, a missão integral continuou a encontrar apoio entre evangélicos, principalmente no segundo e terceiro mundo.”

Contudo, ele não informou seus leitores que os pregadores da TMI na América Latina são igualmente luteranos, presbiterianos e batistas da classe média alta, muitas vezes formados em universidades europeias e americanas, que entram em choque com pregadores pentecostais e neopentecostais geralmente pobres que ajudam os pobres em suas próprias comunidades pobres, mas sem a TMI. Eles ajudam os pobres pregando o Evangelho sem socialismo. Eles incentivam suas audiências a buscar prosperidade, cura, saúde e salvação de Deus. Eles oram pelos doentes e expulsam demônios. Esse é um Evangelho enormemente desconhecido dos adeptos da TMI.

Daí, há conflitos entre eles. Quando o Movimento Lausanne se reuniu no Brasil em 2014 para debater “problemas” pentecostais e neopentecostais, o líder da reunião foi o Rev. Steuernagel, um pastor que não é pentecostal.

Pelo fato de que Padilla não tem apoio da Bíblia para unir o Evangelho com ação política esquerdista, ele tem de usar grandes conferências evangélicas e sua linguagem ambivalente ou vaga ou até mesmo Lausanne, cuja linguagem teve a participação ativa dele.

Além disso, intencionalmente ou não, Padilla desconsiderou a oposição conservadora em Lausanne aos esforços dele para tornar Lausanne mais esquerdista. O líder dessa oposição foi o Dr. C. Peter Wagner, que era missionário na América Latina e conhecia muito bem os promotores da TMI. Ele acusou a TMI de ser esquerdista.

Padilla também nunca mencionou que em Lausanne os líderes evangélicos da América Latina não representavam o pentecostalismo explosivo nessa região. Por exemplo, o Rev. Valdir Steurnagel, hoje líder do Movimento de Lausanne, é pastor da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). Um ex-presidente dessa denominação luterana, Walter Altmann, é moderador do Conselho Mundial de Igrejas e um promotor ativo da Teologia da Libertação. Muitos outros nessa denominação são defensores proeminentes da Teologia da Libertação e TMI. A maior instituição teológica da IECLB no Brasil tem um professor de teologia, o Dr. André Sidnei Musskopf, que é não apenas um homossexual assumido, mas também um militante homossexual ativo e escritor.

A Teologia da Libertação, em seu marxismo explícito, na IECLB faz a TMI parecer, em seu socialismo “suave,” “conservadora” ou até mesmo “direitista”! Mas como mostra o exemplo do Rev. Musskopf, ambas teologias facilitam a aceitação e expansão da teologia gay.

A condição de classe elevada de Steuernagel e suas experiências teológicas mais altas de modo nenhum refletem a experiência das igrejas pentecostais e neopentecostais predominantes no Brasil, cujas congregações muitas vezes são compostas por membros mais pobres do que as congregações luteranas, que geralmente são classe média ou mais alta. A IECLB, que adotou a Teologia da Libertação e a TMI, não representa o perfil da Igreja Evangélica do Brasil.

Padilla também reconhece a influência de Steuernagel em Lausanne dizendo:

“Mas a falta de atenção adequada à questão de justiça durante o Congresso foi claramente articulada por Valdir Steuernagel do Brasil num discurso de dez minutos que ele deu ao plenário no finalzinho do Congresso.”

Da mesma forma, outros teólogos brasileiros não falam pela Igreja Brasileira quando falam sobre ela às audiências do primeiro mundo e conferências evangélicas internacionais.

Paul Freston, um brasileiro naturalizado que tem livros publicado em inglês sobre a Igreja Brasileira, tem um histórico de envolvimentos socialistas no Brasil e ele é uma figura chave em eventos da TMI no Brasil.

Outro promotor da TMI é o Rev. Alexandre Brasil, um pastor presbiteriano que tem dado discursos em instituições calvinistas nos EUA sobre a situação da Igreja Evangélica no Brasil. O Rev. Brasil tem tido um emprego de alto salário como assessor na presidência do Brasil no atual governo socialista.

Todos eles são brasileiros de classes mais elevadas tratando de questões de pobreza em grande parte não experimentadas por seu segmento protestante, mas pelos segmentos pentecostais e neopentecostais.

Apesar disso, Lausanne tem sido uma plataforma para esses teólogos que não são pobres promoverem suas ideias marxistas no nome do Evangelho, que já tem assistência abundante para os pobres, sem socialismo.

Se maldições espirituais podem afetar espiritualmente cristãos enfermos, será que a reunião marxista de Karl Marx em Lausanne em 1867 e suas influências das trevas poderiam ter afetado uma reunião evangélica 100 anos mais tarde?

A responsabilidade de um cristão é pregar o Evangelho a toda criatura, inclusive marxistas, socialistas e comunistas. Vacinar o Evangelho com o marxismo, o comunismo ou o socialismo não é plano de Deus.

Pregar o socialismo mascarado como responsabilidade social “cristã” ou como “casado” ao Evangelho a todos os cristãos não é o que Jesus mandou. Ele mandou que os cristãos pregassem o Evangelho do Reino de Deus e curassem os doentes e expulsassem demônios — presumivelmente, até mesmo ideologias demoníacas entre os cristãos. Sinais e maravilhas, ou curas e expulsão de demônios, estão casados com o Evangelho original, o primeiro Evangelho.

Se tivesse tido oportunidade, o Espírito Santo poderia ter se manifestado em Lausanne e outras conferências evangélicas semelhantes. Em vez disso, o espírito de Karl Marx fez suas manifestações protestantes em Lausanne, que, de acordo com Padilla, estabeleceu a TMI como “a missão da igreja,” levando os evangélicos a abraçar e ajudar uma ideologia que faz o Estado substituir o Evangelho na competência de ajudar os pobres, curar os enfermos e expulsar os demônios mediante seus serviços sociais, financiados não pelo bolso de seus governantes políticos, mas pelo bolso de seus cidadãos explorados.

Por que ninguém ousa chamar a TMI de outro evangelho ou outro espírito?

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