Resenha - Cristianismo Puro e Simples, (C. S. Lewis)

Clive Staples Lewis, (C.S. Lewis) foi um autor e escritor irlandês, conhecido por seu trabalho sobre literatura medieval, palestras, e escritos cristãos. Mais conhecido pela serie de livros "As crônicas de Nárnia".



Escrita no contexto da segunda gerra mundial, foi elaborada para ser transmitida via rádio a convite da BBC e depois convertida no volume como a conhecemos. Cristianismo Puro e Simples é com certeza uma das obras mais impactantes de um dos pensadores mais brilhantes do cristianismo que atravessou o mundo moderno e chegou a pós-modernidade sem perder em nada da sua relevância. À medida que o raciocínio e a decadência da moral humana avançam, Cristianismo Puro e Simples adquire fluorescência aos ateus questionadores sinceros, acredito que também especialmente aos agnósticos, e fortalece a fé dos cristãos que desejam ter um raciocínio mais consolidado. É um livro de apologética com linguagem acessível a todos os interessados.

Aviso: Os que leram as Crônicas de Narnia, mas não conhecem essa obra, não conhecem também o teor sólido por trás das Crônicas. 

Lewis apresenta o cristianismo como o título do livro se propõe a fazer: de forma pura e simples. Sem tomar partido para qualquer denominação religiosa, ou fazer defesas de doutrinas particulares, de forma clara, concisa e brilhante, Lewis aborda os temas mais basilares da religião cristã; a começar pela própria defesa da existência de Deus como uma mente consciente e agente formulador da distinção entre certo e errado, por meio do que os teólogos chamam de "o Argumento Moral".

Enquanto lia, me sentia transportado pela argumentação bastante sincera de Lewis, que antes fora ateu convicto, e agora, rendido à necessidade de admitir a existência do Criador que se revelou por meio de Jesus, explica como sua mente apreendeu a realidade tal como o cristianismo a pode revelar a um ser pensante.

A obra é recheada de citações que circulam hoje pela internet. Além da existência de Deus, aborda também a moralidade cristã, a natureza divina, o pecado e sua fonte original na natureza humana, entre outros temas muitíssimo interessantes.

Destaco o capítulo que posso dizer ter marcado minha consciência como ser humano: "O Grande Pecado". Estava no ônibus enquanto lia. Se você estivesse lá para me observar, veria alguns sorrisos, e depois espantos, e algumas pausas para oração. "Meu Deus, eu sou terrível!", vinha à minha mente. "Meu Deus, esse sou eu". Foi uma experiência inesquecível da qual compartilho até hoje com meus amigos, de tão edificante que me foi entender a raiz de todas as minhas corrupções: o orgulho. De vez em quando você me verá falando ou escrevendo sobre ele, simplesmente porque para Lewis, todo pecado é orgulho manifestado em alguma de suas vertentes. Se você entender isso, vai entender também como orar de forma mais específica, e lutar pela transformação do seu caráter para ser mais semelhante a Cristo. Só por esse capítulo, para mim, a obra toda valeria à pena.

Depois de lê-lo, você deve obter uma visão muito mais ampla da vida cristã; um raciocínio mais mais claro para ter certeza do porquê o cristianismo faz mesmo todo o sentido, e terá argumentos muito mais sinceros para manter sua fé em Cristo. Outro benefício para mim, foi ter sido ajudado quanto ao preconceito com outros cristãos que pensam diferente de mim. Acho que esse livro me ajudou a procurar ouvir melhor, me colocar no lugar do outro pensante e tentar entender o porquê essa pessoa raciocina dessa forma.

Considero uma ótima dica de presente a amigos questionadores, descrentes ou curiosos. Pode render conversas muito mais profundas, apesar de não entrar em méritos doutrinários evitando esse tipo de conflito. Cristianismo Puro e Simples, porque vale à pena entender melhor os conceitos que fundamentam sua fé (ou a falta dela).


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Fonte: Peregrino Cristão

Título: Cristianismo Puro e Simples
Autor: C. S. Lewis
Editora: Wmf Martins Fontes
Páginas: 328
Edição: 2009

De Adão a Nietzsche, passando por Dostoievsky: Jesus é a solução para a crise dos valores

Por: Tassos Lycurgo

A sociedade contemporânea tenta a todo custo negar que existe um bem absoluto, uma justiça absoluta. A sociedade anticristã de hoje nega que existe Deus e que existem valores absolutos. Principalmente por meio de instituições como escolas e universidades, ela passa diuturnamente a mensagem de que todos os valores são relativos, a mensagem de que o que é certo para você pode não ser para mim.


Veja o que o que Dostoievsky escreveu em trecho da obra “Os Irmãos Karamazov”. O referido autor, por meio do personagem Ivan, expõe a ideia de que em um mundo que nega Deus, tudo seria permitido; ou seja, o homem não mais seguiria o critério de moralidade emanado de Deus para saber o que é o bem ou o mal, o que é certo e o que é errado.

Em um mundo assim, o homem afastaria Deus, tentando afastar a objetividade da moralidade. Mas, como dizer que há moralidade quando cada um é o padrão de sua própria ação? Será que algo poderia ser justo para mim, mas não para você? Se não há Deus, ninguém pode estar errado em nada que faça. Tudo o que fará estará certo para ele, tanto que o fez, e ninguém terá o direito de dizer nada. Em resumo, um mundo sem Deus é um mundo impossível de ser vivido, é um mundo ilógico.


C. S. Lewis, assim como eu, percorreu o caminho que vai do ateísmo ao Cristianismo. No começo de sua trajetória, ele considerava a chamada questão moral como o grande obstáculo para a sua aceitação do Cristianismo. Ele achava este mundo era injusto demais para comportar um Deus bondoso. Até que Lewis, dando-se conta de que seu argumento não se sustentava logicamente, concluiu que o próprio senso de que o mundo era injusto somente faria algum sentido lógico se houvesse um critério de justiça absoluta e externa ao mundo, a partir da qual ele seria capaz de diferenciar o certo do errado, o justo do injusto, o bem do mal. Veja o que ele disse:
"[Como ateu] meu argumento contra Deus era que o Universo parecia cruel e injusto demais. Mas de que modo eu tinha esta ideia de justo e injusto? Um homem não diz que uma linha está torta até que tenha alguma ideia do que seja uma linha reta. Com o que eu estava comparando este Universo quando o chamei de injusto?# (C. S. Lewis, em “Cristianismo Puro e Simples”)
Assim, ele percebeu que o fato de ser capaz de achar o mundo injusto era, na realidade, uma prova a favor da existência de Deus e não contrária a isso. Além de o mundo sem Deus ser ilógico, ele seria sem esperança e incapaz de ser vivido. Em um mundo sem Deus, dizer que é errado torturar uma criança por prazer não seria expressar um juízo moral, mas sim uma opinião subjetiva, como , por exemplo, a de que eu prefiro sorvete de chocolate ao de baunilha.

Nietzsche, na obra “Assim falava Zaratustra”, populariza um conceito que já havia inserido em uma de suas obras anteriores, “A Gaia Ciência”. O conceito “Deus está morto” é o de que, em uma sociedade que afasta Deus, não há mais provisão de valores morais absolutos. Nietzsche vai além e mostra que em uma sociedade assim, sem valores, o homem tenta, em algum sentido, ser um super-homem, ocupar a posição de critério objetivo dos valores.

Dostoievsky faz mais ou menos o mesmo. Ele identifica que uma sociedade ateísta faria com que o homem tomasse o papel de Deus, tornando-se uma espécie de homem-deus. Penso que, neste ponto específico, Nietzsche e Dostoievsky têm razão.

Quando o homem se afasta de Deus, ele passa a procurar ocupar o lugar dEle, para tentar ser a fonte dos valores do mundo, para tentar dar logicidade ao mundo. Como ocupar o lugar de Deus é uma tarefa impossível, a humanidade na sociedade contemporânea mergulha na angústia de tentar ser o que nunca conseguirá.

Para resgatar a humanidade, em vão, o homem tenta ser Deus, tenta ser a fonte da qual emanam os valores morais; mas, repito, como a tarefa é impossível, o super-homem que Nietzsche idealizou nunca se realizará, pois o homem não pode por si só ser mais do que o homem; o homem não pode ser Deus, por sua própria força.

Em uma situação como esta, temos uma vida sem propósito, sem sentido objetivo, sem valores reais. Poucos talvez se atentem para isso, mas é a mesma ideia que está presente em Gênesis, um livro escrito há impressionantes trinta e cinco séculos, por um profeta chamado Moisés. O livro de Gênesis, nos versos 2:9, 2:16-17; 3:1-24, diz que a desobediência da humanidade ao comer da árvore do conhecimento do Bem e do Mal levará à morte, ao afastamento do Criador.

Realmente, afastando-se de Deus, o homem passa a ter ciência do Bem e do Mal, passa a tentar ser ele mesmo a fonte de onde emana a moralidade. Para resgate da humanidade, é que alguém veio à Terra para fazer isso; ou seja, para ser o critério da moralidade, do certo e do errado. Essa pessoa só logrou êxito porque era ele próprio a fonte, era ele próprio Deus.

Jesus Cristo é a Verdade que vem ao mundo corrompido para nos reconectar à fonte da moralidade, para nos tirar da crise dos valores, para que possamos cada vez mais alcançar o propósito para o qual fomos criados. Cristo é o único caminho do reconhecimento de que nós, como indivíduos, não queremos mais viver por nossa própria régua (o que é impossível), mas queremos viver pela de Deus. Somente em Cristo realizamos o que de qualquer outra forma ninguém consegue: ser mais do que o homem, pois é somente em Cristo que nos reconectamos com Deus.

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Fonte: Blog Defesa da Fé

Cavalheirismo e Masculinidade Cristã

C. S. Lewis escreveu sobre dois impulsos opostos que normalmente são encontrados em indivíduos diferentes - bravura e gentileza - e que formam a síntese ideal na figura do cavaleiro medieval e seu código de cavalheirismo.

Se uma dessas inclinações dominasse por completo, perder-se-ia o equilíbrio necessário para uma autêntica masculinidade cristã. Força e poder sem benevolência, por exemplo, resultariam em um homem bruto. Ternura e compaixão sem a firmeza masculina produziria um homem sem o fogo para liderar e inspirar os demais.

Manter o equilíbrio certo entre os impulsos de poder e agressão e a necessidade de ser gentil e compassivo é um desafio para os homens. Numa época de confusão de gêneros e confusão social-espiritual como a nossa, onde os violentos ameaçam a sociedade, é preciso diretrizes claras e modelos que possam inspirar os homens a canalizar sua agressividade para propósitos construtivos.

A metáfora do cavaleiro medieval tem seu valor por estimular a imaginação, com seu código de honra e seu chamado à coragem. No ensaio de C. S. Lewis "A Necessidade do Cavalheirismo", ele descrevia o ideal medieval do cavalheiro como um paradoxo: esse ideal ensinava a humildade e tolerância aos grandes guerreiros e exigia coragem dos homens modestos.

O cavalheirismo provê os homens com ideais nítidos - a visão de masculinidade, o código de conduta e uma causa transcedente - além de um processo de avanço de pajem a cavaleiro com cerimônias de celebração e validação.

As cerimônias são importantes por marcar os eventos da jornada rumo à maturidade para que se tornem inesquecíveis. Depois de disciplinas físicas, mentais e religiosas elaboradas, sob as quais o pajem se submetia, nenhum cavaleiro tinha dúvida - "sou um cavalheiro?" - porque tal questão estava para sempre resolvida pelas cerimônias em presença de outros homens.

Lewis escreveu: "Uma das grandes tragédias da cultura ocidental de hoje é a ausência desse tipo de cerimônia... Eu não conseguiria descrever o impacto na alma de um jovem quando um momento importante de sua vida era para sempre tornado memorável e venerado através de uma cerimônia."

Há estágios naturais na vida de um jovem que se prestam para celebração: a puberdade, a graduação escolar e a maioridade. Esses estágios encontram equivalência nos estágios da vida de um cavalheiro: pajem (aprendiz de cavaleiro aos 13 anos), escudeiro (auxiliar de cavaleiro) e ordenação (quando o escudeiro se torna um cavaleiro).

Os ideais do cavalheirismo compreendem a visão de masculinidade, o código de conduta e uma causa transcedente. A visão de masculinidade rejeita a passividade, incentiva à coragem e à busca de grandes recompensas. Esse é um caminho ideal para direcionar a agressividade inata dos homens.

O código de conduta almeja as virtudes bíblicas de lealdade, graciosidade, humildade, pureza, serviço, liderança, honestidade, auto-disciplina, excelência, integridade e perseverança. O cavalheiro dá valor ao trabalho e ao estudo, e, evitando a preguiça, solidifica sua ética de trabalho. Outro aspecto do cavalheiro é o de se dedicar à uma mulher. O código de cavalheirismo requer que todas as mulheres sejam tratadas com respeito e honra.

A causa transcedente é obedecer à vontade de Deus. Os homens desde cedo devem compreender a vida como algo inerentemente moral e compreender que há Deus, que sabe de tudo, recompensa o bem e pune o mal. Desde cedo devem aprender que há valores absolutos e que os mandamentos de Deus são libertadores e não coercitivos.

Lewis declarava que "A verdadeira satisfação na vida é diretamente proporcional à obediência à Deus. Nesse contexto, os limites morais revelam uma nova perspectiva: se tornam benefícios e não encargos."

A vida de uma pessoa não é satisfatória se for vivida apenas para si mesma. Jesus afirmou que ao dar sua vida, você encontrará sua vida. Assim, dedicar sua vida à causa transcedente - Jesus - que é maior que sua própria pessoa, é o caminho para uma vida feliz e completa. A causa transcedente é verdadeiramente heróica - uma busca que exige bravura e sacrifício. É verdadeiramente atemporal - tem significância além do momento. E é supremamente importante - não fútil.

Depois de uma vida no estudo de culturas e civilizações antigas e modernas, a eminente e controversa antropóloga Margaret Mead fez a seguinte observação: "O problema central de toda sociedade é definir papéis apropriados para os homens."

O autor George Gilder teve inspiração similar quando declarou que "Sociedades sábias provêm amplos meios para os jovens rapazes se afirmarem sem afligir os outros."

Os homens precisam de papéis apropriados que sejam considerados de valor e de inspiração para desempenhá-los. Isso é verdadeiro porque os homens são psicologicamente mais frágeis que as mulheres e sofrem mais com sua identidade do que as mulheres. Os homens, mais do que as mulheres, dependem da cultura. Por isso é que é importante ter uma visão cultural de masculinidade.

Na sociedade moderna ocidental, os rapazes realizam sua jornada à maturidade sem uma visão clara do que realmente seja a maturidade. Se eles ficam fora de controle, toda sociedade sofre. Ao declínio do cavalheirismo, que inspirava o "jogo limpo" e a esportividade, corresponde um aumento paralelo da atitude insultosa e de "ganhar a qualquer preço". Onde não há visão, as pessoas perecem (Provérbios 29:18).

Há um aspecto de tudo isso que precisa ser enfatizado. Para inspirar os jovens a se tornarem cavalheiros modernos, é necessária a companhia de homens devotos - a Távola Redonda. Como escreveu Robert Lewis em seu livro "Raising a Modern-Day Knight: A Father's Role in Guiding His Son to Authentic Manhood": "os rapazes se tornam homens em uma comunidade de homens. Não há substituto para esse componente vital... para seu filho se tornar um homem, a comunidade deve ser convocada. Se a presença do pai já é significativa, a presença de outros homens será ainda mais... e a comunidade dos homens resultará em uma amizade mais profunda que os solitários nunca experimentam e essa comunidade expandirá os recursos espirituais e morais de seu filho."

Segundo Christopher Chantrill, estamos numa sociedade de adolescentes. Desde os anos 60, a etapa de adolescência se estendeu para além dos 18 anos. Não há mais cerimônias que marcam a passagem para a idade adulta. Os jovens são educados apenas para a produtividade econômica. Os jovens são bombardeados com a ideia de que violência não resolve nada ao mesmo tempo que são bombardeados com a violência virtual na mídia.

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(Texto resumido de Knighthood and Biblical Manhood, do autor Lou Whitworth, que por sua vez é condensadodo livro de Robert Lewis)